quinta-feira, 22 de julho de 2010

Fichamento do texto: Os bairros urbanos como lugares de práticas sociais. GONÇALVES. Antônio Custódio. Pag. 15- 32

Os bairros urbanos como lugares de práticas sociais

Considerações Preliminares
“Na abordagem deste tema, impõem-se duas considerações preliminares: A primeira refere-se ao modelo conceptual e ao enquadramento teórico ...” (pág 15).
“A segunda está relacionada com os objetivos...” (pág 15).
“A questão central da nossa análise refere-se ao significado de espaço na explicação da vida social e aos efeitos diferenciados das diversas estruturas morfológicas...(pág. 15).
“Desenvolver-se-ão quatro questões fundamentais: a primeira refere-se a configuração sociológica de centro de bairros...”(pág. 16).
“A segunda relaciona-se com a heterogeneidade ou homogeneidade interna dos bairros. Distingui-se-ão alguns tipos de população, a partir do cruzamento de duas variáveis: uma de ordem econômica (...) a outra de ordem cultural...” (pág. 16).
“A terceira e quarta questões referem-se às relações entre a lógica de apropriação (...)as duas variáveis precedentes são cruzadas com alguns modos de comportamento...” (pag. 16).

Configuração Sociológica de Centro e de Bairros
“...enquanto que o centro é tanto mais valorizado quanto mais aberto se apresentar a todos os tipos de populações, de utilizações e de apropriações simbólicas, os bairros, ao contrário, são mais valorizados quanto à intensidade da significação e quanto à qualidade de utilização e de apropriação simbólica...”(pág. 16).
“Trata-se de um tema (...) embora complexo quanto a à questão da definição e da delimitação do bairro e quanto à questão das incidências da hegemonia da perspectiva funcionalista...” (pag. 16).
“ Em ordenamentos territorial apresentam-se muitas definições de bairro ... sem haja consenso quanto à dimensão do espaço, quanto ao conteúdo e extensão das características sociais e quanto à densidade da interação. Em sociologia interessa analisar a relação vivida a um determinado espaço ( ...) ligada a uma conotação afetiva, mais ou menos pronunciada em termos de atração ou de repulsa ...” (pag. 17).
“Se os termos de bairros e de centro reenviam ambos a uma repartição formal do espaço, o primeiro ganha em intensidade de significação quando ao seu conteúdo é especificado, enquanto que qualquer especificação reduz o sentido do segundo. Na verdade os termos de centro direcional, centro administrativo, centro comercia, centro cultural reenviam a um processo de revitalização do centro urbano, por meio de um zonamento de atividades e de populações mais diversas, quer residentes, quer utentes. O bairro caracteriza-se como sendo um lugar onde esta presente ( ...) uma população e/ou uma função particulares, ( bairros operários, bairros residenciais, bairros comerciais, bairros sociais (...) expressões que, em alguns casos, se convertem). Assim, centro polifuncional com populações diversas e bairros caracterizados predominantemente (... ) parece nos ser os elementos constitutivos necessários à vitalidade duma cidade” (pag. 17).
“(... ) parece nos importante que este centro e os bairros se organizem em continuidade e complementaridade funcional, residencial e arquitetônica do espaço social” (pag. 17).
“Esta continuidade e complementaridade funcional, residencial e arquitetônica é, ... posta, ( ...) em causa com operações de renovação e de restauro que ,( ... ) levam {à supressão de bairros de função especifica, indispensáveis ao equilíbrio urbano. A Ribeira e o Barreto são exemplos típicos de tal situação. Situadas na margem direita do Rio Douro, ( ...) estas ares são habitadas (... ) por antigos imigrantes de meios rurais e por populações (... ) que se dedicam ao comercio a ao artesanato. Neste espaço social da cidade, (...) criou-se um modo de vida muito próprio, com características socias e culturais específicas, de vidas à coexistência do espaço funcional, da relação residencial, da atividade econômica e da criatividade lúdica” (pag. 18).
“(...) Convivialidade e centralidade (...) parecem dever ser outras características relevantes destes espaços sócias, (... ) estes bairros afirmam-se não tanto no âmbito duma hierarquia funcional, mas numa posição de supra – funcionalidade” (pag. 18).
“Com a acentuação da terceirização do centro histórico da cidade começam, numa primeira fase, as operações de renovação, ( ...) da área da Ribeira – Barredo (CRUARB), com o objetivo de manter a função residencial, ( ...) numa fase posterior, porém, esta política é alterada: promove-se prioritariamente a terceirização turística com a recuperação de prédios do patrimônio cultural e com a intensificação de atividades artesanais, comerciais lúdicas. Tal política, que se insere no processo de revitalização do circuito econômico do centro comercial e turístico da cidade ( ...)” (pag. 18/19).
“À política destas duas fases parece nos estar subjacentes a dois modelos teóricos e duas perspectivas diferentes: a primeira é caracterizada pela equivalência formal entre o passado e o moderno, consubstanciada pelo urbanismo hausmaniano (...) a segunda, inspirada num materialismo determinista, assenta fundamentalmente numa ruptura com o passado para afirmar exclusivamente o futuro e numa analise da espacialização da vida social ligada ao tipo de poder, quer econômico quer político, que ai se exprimi”( pag. 19).
“ (...) são eliminados da cidade ( ...) todos os bairros que se destroem ou reafetam em nome duma salubrização material ou moral. Tal aconteceu com as chamadas ilhas do Porto, ( ...) Estas ilhas estão ligadas à imigração rural para a cidade e ao desenvolvimento industrial da cidade, situando-se, por isso, perto das principais zonas industriais e sendo ocupadas predominantemente por operários, ( ...) as sucessivas companhias de salubrização destas ilhas conduzirão a destruição de muitas delas ou à remodelação de algumas e ao realojamento das populações em bairros sociais periféricos” (pag. 19/20).
“Surgem, entretanto, novas formas de urbanização, caracterizadas pelas funções sociais do urbanismo, de concepção utilitária e econômica e com uma densa ocupação funcional do espaço construído” (pag. 20).
“ A adaptação de bairros antigos e de velhas construções a novas utilizações é, sem duvida, essencial à própria vida da cidade” (pag. 20).
“ O grande problema das renovações parece-nos residir no fato de elas suprimirem abruptamente certas utilizações e/ou certos utentes (...) os trabalhos da Escola de Chicago que defendia que a cidade se caracteriza pela substituição constante de utilizações e dos utentes mais fracos pelos mais fortes, ( ...) é apresentado como normal e natural ( ...) a questão reside, ... em saber como permitir estas mudanças sucessivas de utilizações e de utentes, que constituem o meio e o indicados da vitalidade de uma cidade, tornando-se necessário que cada atividade, mesmo marginal, e cada grupo social, mesmo desfavorecido, conserve aí o seu lugar que corresponde às suas necessidades” (pag. 21).
Homogeneidade ou Heterogeneidade Interna dos Bairros?
“(...) À maior parte de projetos de urbanistas defendem a heterogeneidade, ( ...) vendo nessa heterogeneidade o meio privilegiado para a realização de três objetivos principais: enriquecer a vida de cada um com a variedade de contatos, promover o ideal da tolerância e da compreensão e a melhoria do conhecimento recíproco e propor aos mais desfavorecidos modos de vida alternativos, ajudando-os na sua ascensão social” (pag. 21).
“A convivência em unidades residenciais ou em imóveis de populações com estilo de vida e de recursos muito diversificados, (...) é freqüentemente causa de frustrações de conflitos” ( pag. 22).
“Todas as considerações feitas a propósito da homogeneidade ou heterogeneidade devem interpreta-se no contexto cultural em que hoje vivemos (...) o desejo de ter como os outros torna a percepção das diferenças mais ou menos insuportável, e estas são rapidamente lidas em termos de injustiça, o que provoca a frustração, e por vezes, a violência” (pag. 22).
“(...) A convivência de populações relativamente próximas umas das outras provoca uma possibilidade de confusão, que pode ser lida positiva ou negativamente: positivamente, se , convivendo com pessoas consideradas superiores a si, se espera ser assimilado a elas por uma leitura exterior: é a expectativa traduzida em certas mudanças de residência, que antecipam uma ascensão social esperada ou confirmam uma realizada; ( ...) a vizinhança de populações socialmente próximas uma das outras, mas que insistem nas suas diferenças, não favorecem a criação de solidariedades (...) as possibilidades que se tem de fazer aceitar ou impor aos outros o seu modo de vida como sendo o modo de vida legitimo, não são as mesmas para todos os meios sociais; por isso, a heterogeneidade pode levar à rejeição como ilegítimos de comportamentos e de maneiras de ser e de fazer adaptados pelos meios sociais culturalmente dominantes”( pag. 22/23).
“(...) os ruídos dos vizinhos são tanto mais incômodos na medida em que exprimem outros modos de educação das crianças ou outros gostos musicais (...) a partilha duma mesma concepção da qualidade do ambiente, da educação das crianças, o mesmo sentido de limpeza e da sujidade, da beleza e da fealdade reduz as ocasiões de conflito e minimiza as exigência de regulamentos explícitos” (pag. 23).
“Uma certa homogeneidade de populações favorece a construção da sua identidade e das suas identificações” (pag. 23).
“ A heterogeneidade dos bairros (...) cria a existência de escolhas na escala global da cidade, permitindo, assim, a expressão numa mobilidade residencial de uma mobilidade social maior ou menor”(pag. 24).
“(...) as expectativas em relação à vida dos bairros diferem e as solidariedades não se desenvolve necessariamente de maneira privilegiada com base espacial”( pag. 24).
“A dominante social e/ou a particularidade funcional dum bairro constituem freqüentemente o elemento atrativo ocasional para outras populações (...) a atração dos bairros populares é muito maior que a dos bairros burgueses (...)” (pag. 24).
“(...) os bairros com mais segurança efetiva são justamente ou os ocupados por meios populares, para quem a rua é um lugar afetivo de apropriação, onde cada um se sente responsável e como que em sua casa, ou os que constituem o território de minorias marcadas por uma ou outra forma de ilegalidade e desejosas de aí assegurarem a ordem. Querer eliminar da cidade estas populações e atividades, leva quer à dispersão (...) à insegurança, quer a recriação de outros lugares próprios em condições mais desfavoráveis, tanto para si próprias, como para o equilíbrio global da cidade” (pag. 25).
“Assim, uma homogeneidade relativa das unidades residenciais parece mais favorável, do que uma heterogeneidade reduzida, a contatos positivos entre populações diferentes (...)” (pag. 25).
“Além disso, o conceito de uma cidade viva, centro de vida, de contatos e de confrontos, supõe também uma nova política quanto ao zonamento do espaço (...)” (pag. 25).
“Esta nova política do especo não se opõe à necessidade de dominantes funcionais (...)” (pag. 25).
“Para além das razões (...) outras foram evocadas por Amos Rapoport e que, segundo ele, explicam a tendência para ocupação de bairros onde prevalece a percepção da homogeneidade (...) A homogeneidade diminui o estress e a necessidade de informação (...) A homogeneidade proporciona um apoio mútuo em momentos tensão ou de mudança cultural (...) a existência de numerosas zonas homogenias, do ponto de vista interno, aumenta a escolha no conjunto global da cidade e, em termos de qualidade estética, permite a personalização de cada espaço (...) os grupos e os indivíduos vêem mais facilmente manifestar-se a sua identidade através do espaço e podem transmiti-la reciprocamente (...)” (pag. 26).
“Está análise de Amos Rapoport parece-nos interessante (...) por outro lado, leva-nos a abordar, (...) duas questões importante: a lógica de apropriação e a lógica de produção do espaço social, a dimensão do bairro e o problema do bairro como base espacial de participação ou de retreinamento (...)” ( pag. 25/26).
Lógica de Apropriação do Espaço Social do Bairro
“ As percepções e significações doa bairros estão relacionadas com a questão da dimensão do bairro. Esta questão da dimensão do bairro só tem sentido, (...) na medida em que é redimensionada pelas percepção e pelas práticas sociais (...)” ( pag. 27).
“A dimensão ideal do bairro tem sido amplamente desenvolvida em planeamento urbano (...) um dos principais defeitos de algumas destas cidades novas: a imbricação progressiva das formas e das ambiências, (...) o tecido e traça arquitetônica (...)” (pag.27).
“Esta diversidade de dimensões e está ausência de ruptura quanto à forma e quanto à função, como quanto à ambiência parece encontra-se a nível das percepções e das utilizações, de três maneiras que se interpenetram. Primeiro, p tipo de utilização influencia a dimensão do bairro (...) num bairro residencial urbano os comércio em sentido lato, vão, freqüentemente, reagrupar-se no cruzamento de ruas. Depois, a concentração será maior, na medida em que a sua utilização e a sua função se apresentarem altamente especializadas. Por último, as percepções e as práticas sociais definem os bairros (...)” (pag. 27/28).
“(...) Para certas populações, o bairro é o lugar de enraizamento total e quase exclusivo. (...)” (pag.28).
“Ao invés desta situação globalizante em que a vida social se inscreve totalmente em formas e em espaços concretos, encontram-se os bairros (...) o bairro é, antes de mais, um modo de se dar e ver socialmente e uma promoção quanto ao alojamento; não é a base privilegiada das relações, nem o lugar de utilizações cotidianas, dispersando-se estas segundo o seu tipo pelo território mais vasto de toda cidade.” (pag. 28).
Lógica de Produção do Espaço Social do Bairro
“A noção de bairro não pode dissociar-se dos modelos culturais. Para uns, o bairro é vivido como algo próximo da comunidade (...) Para outros, (...) o bairro é o lugar de residência, e, cada vez menos, o lugar de relações intensas (...)” (pag. 29/30).
“(...) importante refletir sobre o projeto daqueles que insistem na idéia de bairro como lugar privilegiado de vida e de expressão de convivialidade (...) conceber o bairro como lugar de comunidade, associando a está apenas conotações positivas, pode convertê-lo em um lugar de controle máximo, de limitação à liberdade, à inovação e à mudança.” (pag.30).
“Para além da evocação de comunidade, a idéia de bairro reenvia também ao problema da participação. (...) um envolvimento muito intenso na vida do bairro não favorece uma visão mais ampla dos problemas e oculta o peso das determinações econômicas e políticas (...)” (pag.30).
“(...) O bairro define-se através do vivido e do agir social, consolidando-se a partir da sua história. O bairro é, pois, polissêmico e não rigorosamente delimitável. Por outro lado, se a significação atribuída ao bairro não é a mesma para todas as pessoas, o interesse pelo bairro pode concretizar-se, para uns, numa tomada de consciência de problemas globais (...) enquanto para outros pode acentuar um comportamento de reitraimento e de enquistamento (...)”( pag. 30)
“ (...) a cidade global e os bairros específicos assumam (...) o seu papel dinâmico como lugares de encontro e de expressão. (...) Importa (...) assegurar a cada meio social um espaço em que ele possa dominar as regras de utilização (...) importa , igualmente, melhorar a qualidade dos espaços públicos (...) implica, ainda, melhorar a qualidade dos lugares semi-públicos (...). Estas ações exigem, porém, uma reflexão concertada sobre a cidade (...). O espaço social urbano aparece, assim, ligado a um novo paradigma e a uma matriz urbanística, que exprime novas maneiras de coexistência e novas práticas sociais.” (pag. 31).

Por: Tatiana Neves.

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