quinta-feira, 22 de julho de 2010

Fichamento do texto: Os bairros urbanos como lugares de práticas sociais. GONÇALVES. Antônio Custódio. Pag. 15- 32

Os bairros urbanos como lugares de práticas sociais

Considerações Preliminares
“Na abordagem deste tema, impõem-se duas considerações preliminares: A primeira refere-se ao modelo conceptual e ao enquadramento teórico ...” (pág 15).
“A segunda está relacionada com os objetivos...” (pág 15).
“A questão central da nossa análise refere-se ao significado de espaço na explicação da vida social e aos efeitos diferenciados das diversas estruturas morfológicas...(pág. 15).
“Desenvolver-se-ão quatro questões fundamentais: a primeira refere-se a configuração sociológica de centro de bairros...”(pág. 16).
“A segunda relaciona-se com a heterogeneidade ou homogeneidade interna dos bairros. Distingui-se-ão alguns tipos de população, a partir do cruzamento de duas variáveis: uma de ordem econômica (...) a outra de ordem cultural...” (pág. 16).
“A terceira e quarta questões referem-se às relações entre a lógica de apropriação (...)as duas variáveis precedentes são cruzadas com alguns modos de comportamento...” (pag. 16).

Configuração Sociológica de Centro e de Bairros
“...enquanto que o centro é tanto mais valorizado quanto mais aberto se apresentar a todos os tipos de populações, de utilizações e de apropriações simbólicas, os bairros, ao contrário, são mais valorizados quanto à intensidade da significação e quanto à qualidade de utilização e de apropriação simbólica...”(pág. 16).
“Trata-se de um tema (...) embora complexo quanto a à questão da definição e da delimitação do bairro e quanto à questão das incidências da hegemonia da perspectiva funcionalista...” (pag. 16).
“ Em ordenamentos territorial apresentam-se muitas definições de bairro ... sem haja consenso quanto à dimensão do espaço, quanto ao conteúdo e extensão das características sociais e quanto à densidade da interação. Em sociologia interessa analisar a relação vivida a um determinado espaço ( ...) ligada a uma conotação afetiva, mais ou menos pronunciada em termos de atração ou de repulsa ...” (pag. 17).
“Se os termos de bairros e de centro reenviam ambos a uma repartição formal do espaço, o primeiro ganha em intensidade de significação quando ao seu conteúdo é especificado, enquanto que qualquer especificação reduz o sentido do segundo. Na verdade os termos de centro direcional, centro administrativo, centro comercia, centro cultural reenviam a um processo de revitalização do centro urbano, por meio de um zonamento de atividades e de populações mais diversas, quer residentes, quer utentes. O bairro caracteriza-se como sendo um lugar onde esta presente ( ...) uma população e/ou uma função particulares, ( bairros operários, bairros residenciais, bairros comerciais, bairros sociais (...) expressões que, em alguns casos, se convertem). Assim, centro polifuncional com populações diversas e bairros caracterizados predominantemente (... ) parece nos ser os elementos constitutivos necessários à vitalidade duma cidade” (pag. 17).
“(... ) parece nos importante que este centro e os bairros se organizem em continuidade e complementaridade funcional, residencial e arquitetônica do espaço social” (pag. 17).
“Esta continuidade e complementaridade funcional, residencial e arquitetônica é, ... posta, ( ...) em causa com operações de renovação e de restauro que ,( ... ) levam {à supressão de bairros de função especifica, indispensáveis ao equilíbrio urbano. A Ribeira e o Barreto são exemplos típicos de tal situação. Situadas na margem direita do Rio Douro, ( ...) estas ares são habitadas (... ) por antigos imigrantes de meios rurais e por populações (... ) que se dedicam ao comercio a ao artesanato. Neste espaço social da cidade, (...) criou-se um modo de vida muito próprio, com características socias e culturais específicas, de vidas à coexistência do espaço funcional, da relação residencial, da atividade econômica e da criatividade lúdica” (pag. 18).
“(...) Convivialidade e centralidade (...) parecem dever ser outras características relevantes destes espaços sócias, (... ) estes bairros afirmam-se não tanto no âmbito duma hierarquia funcional, mas numa posição de supra – funcionalidade” (pag. 18).
“Com a acentuação da terceirização do centro histórico da cidade começam, numa primeira fase, as operações de renovação, ( ...) da área da Ribeira – Barredo (CRUARB), com o objetivo de manter a função residencial, ( ...) numa fase posterior, porém, esta política é alterada: promove-se prioritariamente a terceirização turística com a recuperação de prédios do patrimônio cultural e com a intensificação de atividades artesanais, comerciais lúdicas. Tal política, que se insere no processo de revitalização do circuito econômico do centro comercial e turístico da cidade ( ...)” (pag. 18/19).
“À política destas duas fases parece nos estar subjacentes a dois modelos teóricos e duas perspectivas diferentes: a primeira é caracterizada pela equivalência formal entre o passado e o moderno, consubstanciada pelo urbanismo hausmaniano (...) a segunda, inspirada num materialismo determinista, assenta fundamentalmente numa ruptura com o passado para afirmar exclusivamente o futuro e numa analise da espacialização da vida social ligada ao tipo de poder, quer econômico quer político, que ai se exprimi”( pag. 19).
“ (...) são eliminados da cidade ( ...) todos os bairros que se destroem ou reafetam em nome duma salubrização material ou moral. Tal aconteceu com as chamadas ilhas do Porto, ( ...) Estas ilhas estão ligadas à imigração rural para a cidade e ao desenvolvimento industrial da cidade, situando-se, por isso, perto das principais zonas industriais e sendo ocupadas predominantemente por operários, ( ...) as sucessivas companhias de salubrização destas ilhas conduzirão a destruição de muitas delas ou à remodelação de algumas e ao realojamento das populações em bairros sociais periféricos” (pag. 19/20).
“Surgem, entretanto, novas formas de urbanização, caracterizadas pelas funções sociais do urbanismo, de concepção utilitária e econômica e com uma densa ocupação funcional do espaço construído” (pag. 20).
“ A adaptação de bairros antigos e de velhas construções a novas utilizações é, sem duvida, essencial à própria vida da cidade” (pag. 20).
“ O grande problema das renovações parece-nos residir no fato de elas suprimirem abruptamente certas utilizações e/ou certos utentes (...) os trabalhos da Escola de Chicago que defendia que a cidade se caracteriza pela substituição constante de utilizações e dos utentes mais fracos pelos mais fortes, ( ...) é apresentado como normal e natural ( ...) a questão reside, ... em saber como permitir estas mudanças sucessivas de utilizações e de utentes, que constituem o meio e o indicados da vitalidade de uma cidade, tornando-se necessário que cada atividade, mesmo marginal, e cada grupo social, mesmo desfavorecido, conserve aí o seu lugar que corresponde às suas necessidades” (pag. 21).
Homogeneidade ou Heterogeneidade Interna dos Bairros?
“(...) À maior parte de projetos de urbanistas defendem a heterogeneidade, ( ...) vendo nessa heterogeneidade o meio privilegiado para a realização de três objetivos principais: enriquecer a vida de cada um com a variedade de contatos, promover o ideal da tolerância e da compreensão e a melhoria do conhecimento recíproco e propor aos mais desfavorecidos modos de vida alternativos, ajudando-os na sua ascensão social” (pag. 21).
“A convivência em unidades residenciais ou em imóveis de populações com estilo de vida e de recursos muito diversificados, (...) é freqüentemente causa de frustrações de conflitos” ( pag. 22).
“Todas as considerações feitas a propósito da homogeneidade ou heterogeneidade devem interpreta-se no contexto cultural em que hoje vivemos (...) o desejo de ter como os outros torna a percepção das diferenças mais ou menos insuportável, e estas são rapidamente lidas em termos de injustiça, o que provoca a frustração, e por vezes, a violência” (pag. 22).
“(...) A convivência de populações relativamente próximas umas das outras provoca uma possibilidade de confusão, que pode ser lida positiva ou negativamente: positivamente, se , convivendo com pessoas consideradas superiores a si, se espera ser assimilado a elas por uma leitura exterior: é a expectativa traduzida em certas mudanças de residência, que antecipam uma ascensão social esperada ou confirmam uma realizada; ( ...) a vizinhança de populações socialmente próximas uma das outras, mas que insistem nas suas diferenças, não favorecem a criação de solidariedades (...) as possibilidades que se tem de fazer aceitar ou impor aos outros o seu modo de vida como sendo o modo de vida legitimo, não são as mesmas para todos os meios sociais; por isso, a heterogeneidade pode levar à rejeição como ilegítimos de comportamentos e de maneiras de ser e de fazer adaptados pelos meios sociais culturalmente dominantes”( pag. 22/23).
“(...) os ruídos dos vizinhos são tanto mais incômodos na medida em que exprimem outros modos de educação das crianças ou outros gostos musicais (...) a partilha duma mesma concepção da qualidade do ambiente, da educação das crianças, o mesmo sentido de limpeza e da sujidade, da beleza e da fealdade reduz as ocasiões de conflito e minimiza as exigência de regulamentos explícitos” (pag. 23).
“Uma certa homogeneidade de populações favorece a construção da sua identidade e das suas identificações” (pag. 23).
“ A heterogeneidade dos bairros (...) cria a existência de escolhas na escala global da cidade, permitindo, assim, a expressão numa mobilidade residencial de uma mobilidade social maior ou menor”(pag. 24).
“(...) as expectativas em relação à vida dos bairros diferem e as solidariedades não se desenvolve necessariamente de maneira privilegiada com base espacial”( pag. 24).
“A dominante social e/ou a particularidade funcional dum bairro constituem freqüentemente o elemento atrativo ocasional para outras populações (...) a atração dos bairros populares é muito maior que a dos bairros burgueses (...)” (pag. 24).
“(...) os bairros com mais segurança efetiva são justamente ou os ocupados por meios populares, para quem a rua é um lugar afetivo de apropriação, onde cada um se sente responsável e como que em sua casa, ou os que constituem o território de minorias marcadas por uma ou outra forma de ilegalidade e desejosas de aí assegurarem a ordem. Querer eliminar da cidade estas populações e atividades, leva quer à dispersão (...) à insegurança, quer a recriação de outros lugares próprios em condições mais desfavoráveis, tanto para si próprias, como para o equilíbrio global da cidade” (pag. 25).
“Assim, uma homogeneidade relativa das unidades residenciais parece mais favorável, do que uma heterogeneidade reduzida, a contatos positivos entre populações diferentes (...)” (pag. 25).
“Além disso, o conceito de uma cidade viva, centro de vida, de contatos e de confrontos, supõe também uma nova política quanto ao zonamento do espaço (...)” (pag. 25).
“Esta nova política do especo não se opõe à necessidade de dominantes funcionais (...)” (pag. 25).
“Para além das razões (...) outras foram evocadas por Amos Rapoport e que, segundo ele, explicam a tendência para ocupação de bairros onde prevalece a percepção da homogeneidade (...) A homogeneidade diminui o estress e a necessidade de informação (...) A homogeneidade proporciona um apoio mútuo em momentos tensão ou de mudança cultural (...) a existência de numerosas zonas homogenias, do ponto de vista interno, aumenta a escolha no conjunto global da cidade e, em termos de qualidade estética, permite a personalização de cada espaço (...) os grupos e os indivíduos vêem mais facilmente manifestar-se a sua identidade através do espaço e podem transmiti-la reciprocamente (...)” (pag. 26).
“Está análise de Amos Rapoport parece-nos interessante (...) por outro lado, leva-nos a abordar, (...) duas questões importante: a lógica de apropriação e a lógica de produção do espaço social, a dimensão do bairro e o problema do bairro como base espacial de participação ou de retreinamento (...)” ( pag. 25/26).
Lógica de Apropriação do Espaço Social do Bairro
“ As percepções e significações doa bairros estão relacionadas com a questão da dimensão do bairro. Esta questão da dimensão do bairro só tem sentido, (...) na medida em que é redimensionada pelas percepção e pelas práticas sociais (...)” ( pag. 27).
“A dimensão ideal do bairro tem sido amplamente desenvolvida em planeamento urbano (...) um dos principais defeitos de algumas destas cidades novas: a imbricação progressiva das formas e das ambiências, (...) o tecido e traça arquitetônica (...)” (pag.27).
“Esta diversidade de dimensões e está ausência de ruptura quanto à forma e quanto à função, como quanto à ambiência parece encontra-se a nível das percepções e das utilizações, de três maneiras que se interpenetram. Primeiro, p tipo de utilização influencia a dimensão do bairro (...) num bairro residencial urbano os comércio em sentido lato, vão, freqüentemente, reagrupar-se no cruzamento de ruas. Depois, a concentração será maior, na medida em que a sua utilização e a sua função se apresentarem altamente especializadas. Por último, as percepções e as práticas sociais definem os bairros (...)” (pag. 27/28).
“(...) Para certas populações, o bairro é o lugar de enraizamento total e quase exclusivo. (...)” (pag.28).
“Ao invés desta situação globalizante em que a vida social se inscreve totalmente em formas e em espaços concretos, encontram-se os bairros (...) o bairro é, antes de mais, um modo de se dar e ver socialmente e uma promoção quanto ao alojamento; não é a base privilegiada das relações, nem o lugar de utilizações cotidianas, dispersando-se estas segundo o seu tipo pelo território mais vasto de toda cidade.” (pag. 28).
Lógica de Produção do Espaço Social do Bairro
“A noção de bairro não pode dissociar-se dos modelos culturais. Para uns, o bairro é vivido como algo próximo da comunidade (...) Para outros, (...) o bairro é o lugar de residência, e, cada vez menos, o lugar de relações intensas (...)” (pag. 29/30).
“(...) importante refletir sobre o projeto daqueles que insistem na idéia de bairro como lugar privilegiado de vida e de expressão de convivialidade (...) conceber o bairro como lugar de comunidade, associando a está apenas conotações positivas, pode convertê-lo em um lugar de controle máximo, de limitação à liberdade, à inovação e à mudança.” (pag.30).
“Para além da evocação de comunidade, a idéia de bairro reenvia também ao problema da participação. (...) um envolvimento muito intenso na vida do bairro não favorece uma visão mais ampla dos problemas e oculta o peso das determinações econômicas e políticas (...)” (pag.30).
“(...) O bairro define-se através do vivido e do agir social, consolidando-se a partir da sua história. O bairro é, pois, polissêmico e não rigorosamente delimitável. Por outro lado, se a significação atribuída ao bairro não é a mesma para todas as pessoas, o interesse pelo bairro pode concretizar-se, para uns, numa tomada de consciência de problemas globais (...) enquanto para outros pode acentuar um comportamento de reitraimento e de enquistamento (...)”( pag. 30)
“ (...) a cidade global e os bairros específicos assumam (...) o seu papel dinâmico como lugares de encontro e de expressão. (...) Importa (...) assegurar a cada meio social um espaço em que ele possa dominar as regras de utilização (...) importa , igualmente, melhorar a qualidade dos espaços públicos (...) implica, ainda, melhorar a qualidade dos lugares semi-públicos (...). Estas ações exigem, porém, uma reflexão concertada sobre a cidade (...). O espaço social urbano aparece, assim, ligado a um novo paradigma e a uma matriz urbanística, que exprime novas maneiras de coexistência e novas práticas sociais.” (pag. 31).

Por: Tatiana Neves.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Repensando a "periferia" metropolitana à luz da mobilidade casa-trabalho.

autora: Luciana Corrêa Lago

Ao longo dos anos, o acesso das "classes populares" à moradia e ao emprego formal tem diminuido, no que se configura como alterações no mundo do trabalho e no "mundo da vida", repercutindo sobre a dinâmica da vida urbana, em especial sobre as formas de integração à metrópole.
partindo da tese, divulgada por orgãos públicos e a mídia, de que estaria ocorrendo, no Brasil, uma crescente imobilidade espacial dos trabalhadores mais vulnerabilizados no interior das cidades.
Ao pensar sobre tal fenômeno, estão presentes três hipóteses:
1- O aumento da imobilidade dos trabalhadores estaria ligada ao crescimento da economia informal precária nas áreas periféricas, gerando uma descentralização econômica "perversa", ou seja, precariamente de "auto-subsistência".
2- O aumento da imobilidade estaria relacionado a um maior dinamismo econômico em sub-centros periféricos, através da expansão do capital, e consequentemente a um mercado de trabalho para os setores médios, gerando, ainda, uma economia informal de baixa qualificação.
3- O aumento de desocupados que não teriam condições de se deslocarem para os centros
em busca de trabalho, mantendo sua condição de desocupado.
As três hipóteses poderiam justificar a expansão das favelas nas zonas periféricas, assim como a densificação das já existentes nas áreas centrais e suburbanas na capital.
Nas metrópoles brasileiras (anos 70/80), verificou-se que os diversos tipos de integração econômica representaram a segregação na esfera do consumo, já que nem todos possuem condições financeiras de interagirem no âmbito do mercado, gerando desta forma a desigualdade de classes. A própria distribuição socioespacial dos sujeitos, ao longo dos anos, representou a dualidade centro-periferia com as suas peculiaridades, já que o Centro oferece todas as condições de acesso à cidadania em contraste com as ofertas de serviços nas regiões periféricas. Fomentando toda essa dualidade, encontra-se o Estado e a sua omissão frente à realidade das periferias brasileiras.
Cabe destacar que na conjuntura da década de 80, há uma grande reformulação nas periferias, seja pela crise econômica estatal, seja pela valorização das áreas periféricas consolidadas, dificultando o acesso aos segmentos mais abastados aos planos habitacionais.
Constata-se que no decorrer da década de 80 a situação socioeconômica desfavorável dos segmentos mais abastados foi fator que inviabilizou o acesso ao crédito, consequência da realidade econômica do país e instabilidade do emprego. O acesso ao mercado informal de moradia, via loteamentos populares, se deu de forma intensa.
A questão centro-periferia teve na segregação o seu principal vetor, em função da redução da distância física entre ricos e pobres, autosegregação das camadas superiores e médias, e pela segregação compulsória das camadas inferiores em espaços entendidos como disfuncionais para a economia urbana e de risco para a ordem urbana.
O modelo dualista homogeneizou vastas áreas nas metrópoles, ainda que o espaço metropolitano seja mais complexo do que o apresentado pelo núcleo-periferia.
A autora questiona se os novos arranjos territoriais na (re) produção das desigualdades sociais, nas metrópoles brasileiras representarão a redistribuição dos mecanismos de acesso a uma vida digna.
Os trabalhadores brasileiros, nas metrópoles em particular, vêem-se mais empobrecidos e vulneráveis quanto à renda e ao trabalho formal. Contudo, a autora destaca o Rio de Janeiro das demais metrópoles frente a este quadro socioeconômico. A perda de posição para São Paulo, desde os anos 40, no ranking das mais bem estruturadas metrópoles do país, é apontado como um dos motivos pelo qual a crise vem se agravando desde antes dos anos 80. Outro fator foi o deslocamento da capital para Brasília, na déc. de 60.
Esta instabilidade observada no Estado do Rio é entendida de duas formas: a perda da capacidade competitiva das indústrias a partir da migração das grandes empresas para São Paulo e Belo Horizonte e a perda de atratividade para alocar grandes empresas, sobretudo a partir da migração dos grandes bancos para São Paulo.
Tais acontecimentos, porém, não foram suficientes para afastar o Rio da segunda colocação entre os estados com maior concentração populacional e atividade econômica da Brasil. No entanto, este contou com o menor índice de taxa de crescimento demográfico, 1,1 % ao ano, frente a outras metrópoles. Outro dado aponta para uma parcela maior de trabalhadores em atividades manuais, entre os anos de 1991 e 2000, destacando-se o setor terciário. Tal dado aponta para uma maior precarização do trabalho na área metropolitana fluminense. Já entre os trabalhos que mais empregavam de forma ilegal (sem carteira) ou autônomos destacam-se em 2000, os operários da construção, os ambulantes, os prestadores de serviço especializados e os trabalhadores domésticos. (p. 8).
Já o setor primário, ou industrial, apresentou uma crise explicada pela diminuição dos postos de trabalho, sobretudo na indústria tradicional de 7% para 3,9%. A estas porcentagens somam-se os trabalhadores sem carteira e autônomos da indústria, que chegavam a 57% em 2000. Já os trabalhadores em serviços auxiliares a indústria tiveram um pequeno aumento. Estas percentagens referentes ao “mundo popular” tenderam a se manter estáveis na região metropolitana com exceção dos trabalhadores domésticos e da construção, que apresentaram queda em certas regiões e altas em outras.
No que se refere ao setor médio e superior, a autora apresenta destaque para maior participação dos trabalhadores se nível superior. Porém não há um padrão quanto às tendências assumidas nas diversas categorias profissionais. Aponta queda entre os funcionários públicos, elevação entre os profissionais do setor privado, tanto os empregados quanto os autônomos e um padrão no setor dos professores universitários. Já aqueles empregados nas atividades médias apresentaram queda frente aos profissionais da saúde e educação, que apresentaram aumentos em suas áreas.
A autora passa às alterações sócio-espaciais na metrópole do Rio de janeiro e aponta para uma configuração hierarquizada que expressa uma complexa estrutura social. Identifica uma dualidade núcleo-periferia extremamente polarizada do tipo superior e popular. Em seus pólos existem variações sociais que tiram seu esperado caráter homogêneo. Suas análises destacaram duas principais tendências na estruturação espacial na metrópole fluminense nos anos 80: nos espaços mais valorizados aponta-se a presença de elitização e favelização e nos espaços periféricos uma diversificação social em áreas restritas. Nas áreas elitizadas houve uma entrada massiva do capital imobiliário sendo responsável pelas mudanças do uso do espaço construído com maior parcela de profissionais de nível superior. Estas áreas tronaram-se cada vez mais restritas às camadas empobrecidas, gerando um crescimento das favelas locais e até o surgimento de novas favelas.
Já na periferia houve um movimento voltado a novos investimentos imobiliários, ocasionando uma mudança no perfil habitacional. Tal movimento é chamado pela autora de “expansão das fronteiras do núcleo” (p.10). Observa-se que juntamente com os padrões habitacionais também há um avanço nas condições de ensino das camadas médias sem, no entanto modificar o peso da classe operária e do setor de comercio nestas zonas. Para além dos empreendimentos imobiliários também se investiu, a partir dos anos 90, em Shopping Centers e, de forma parcial, em investimentos públicos.
Com relação aos anos 90, sob um contexto de ausência de políticas habitacionais voltados aos setores médios inferiores, houve um processo de elitização das áreas de habitacionais das camadas abastadas. O que se percebeu foi o aumento dos profissionais de nível superior o que configura uma elitização destes espaços. Tal processo acontece concomitantemente ao aumento da participação dos trabalhadores manuais em serviços especializados, indicando uma tendência a proletarização. Desta forma, o que se conclui é a permanente elitização das áreas nobres e conseqüente fechamento destas às camadas médias e proletárias.
Lançando olhar sobre as zonas operário/ popular, contatou-se um aumento relativo dos profissionais de nível superior e de trabalhadores manuais em serviços especializados, configurando uma diversificação social dentro desta classificação. Neste universo destacam-se áreas com elevada tendência do perfil social, como é o caso de Mangaratiba e Maricá. Estas cidades apresentam grande potencial para o turismo litorâneo, estando situadas na “Costa verde” “Costa do Sol”. Já em áreas de periferia distante, como Japeri, Itaguai e Paracambi, destaca-se um crescimento das atividades de trabalho inferiores (domesticas, prestadores de serviços e ambulantes).
Outro ponto abordado pela autora e a questão do fluxo diário casa- trabalho. Porém antes de introduzir tal questão, ela faz referencia a um indicador relevante para a sua abordagem. Assim, segundo o PNAD, houve uma evolução na taxa de desemprego, na metrópole do Rio de Janeiro entre os anos de 1992 e 2001. Desta forma, para uma abordagem das condições de acesso a bens e serviços urbanos referenciada no local de habitação é necessário considerar a parcela de desempregados. Percebe-se que nas áreas periféricas, era concomitante o percentual o crescimento dos setores médios empregados e de trabalhadores desempregados. Fica clara assim a tese da imobilidade dos pobres. Isso dado que estes desempregados das periferias estariam reféns dos autos preços das passagens do transporte público e impossibilitados de circular pela cidade.
Tomando as condições de mobilidade, percebe-se que a sua intensificação resulta da dinâmica de hierarquia territorial entre centros e subcentros econômicos, o acesso a transporte coletivo, referente ao itinerário, periodicidade e tarifas, além da disposição dos setores sociais segundos os bairros. Medir a distancia casa- trabalho e o tempo gasto neste percurso revelam os níveis de desigualdade social.
Embora entre os anos 1980 e 2000, não se tenha observado aumento nem redução no peso dos fluxos diários, de modo a induzir que não há uma questão de imobilidade dos trabalhadores, tais indicadores podem ser contestados. Isso dado que em geral, os trabalhadores dos municípios periféricos empregam-se na própria cidade onde reside. Desta forma a autora afirma que este fenômeno era e ainda é elevado entre as áreas de periferia.
Entre os dados dos trabalhadores que se deslocam de seu município para trabalhar/ estudar em outro, observa-se que há uma maior intensidade de circulação de mão de obra para municípios mais próximos entre sim, dentro da zona metropolitana. Contudo, a cidade do Rio de Janeiro continua atraindo o maior número de trabalhadores, seguido de Niterói.
A autora passa a utilizar dois municípios, Japeri e Nova Iguaçu, do modo a mostrar sua polaridade quanto aos dados de mobilidade pendular. O segundo apresenta um índice de trabalhadores que trabalham no próprio município de 61%, enquanto no primeiro esse cai para 45%. Ela parte então para as atividades laborais que se destacam nestes dois municípios. O que surge são ocupações localizadas de forma extrema na hierarquia social: ambulantes/ biscates e empregadores. Entre os que buscam trabalho em outros centros e cidades, destacam-se aqueles em ocupações de nível médio e domésticas.
Entre as classes médias vindas das áreas periféricas, a maioria não é absorvida pelo mercado de trabalho de suas cidades. Porém, entre os profissionais de nível superior e pequenos empregadores, houve uma maior absorção pelo mercado local. Assim, o que infere é uma “descentralização positiva”, segundo a autora, que caminha para as periferias de forma formal ou informal. No outro extremo, os trabalhadores mais pauperizados acabam em atividades no próprio município, dado a precariedade das condições salariais e de trabalho. Daí decorre a chamada “descentralização perversa”.





Por Pablo Landes, João Ricardo e José Aloísio.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Favelário Nacional - por Drummond de Andrade

A memória de Alceu Amoroso Lima, que me convidou a olhar para as favelas do Rio de Janeiro.

Favelário Nacional


1. Prosopopéia

Quem sou eu para te cantar, favela,
que cantas em mim e para ninguém a noite inteira de sexta
e a noite inteira de sábado
e nos desconheces, como igualmente não te conhecemos?

Sei apenas do teu mau cheiro: baixou a mim, na vibração,
direto, rápido, telegrama nasal
anunciando morte... melhor, tua vida.

Decoro teus nomes. Eles
jorram na enxurrada entre detritos
da grande chuva de janeiro de 1966
em noites e dias e pesadelos consecutivos.

Sinto, de lembrar, essas feridas descascadas na perna esquerda
chamadas Portão Vermelho, Tucano, Morro do Nheco,
Sacopã, Cabritos, Guararapes, Barreira do Vasco,
Catacumba catacumbal tonitruante no passado,
e vem logo Urubus e vem logo Esqueleto,
Tabajaras estronda tambores de guerra,
Cantagalo e Pavão soberbos na miséria,
a suculenta Mangueira escorrendo caldo de samba,
Sacramento... Acorda, Caracol. Atenção, Pretos Forros!

O mundo pode acabar esta noite, não como nas Escrituras se estatui.
Vai desabar, grampiola por grampiola,
trapizonga por trapizonga,
tamanco, violão, trempe, carteira profissional, essas drogas todas,
esses tesouros teus, altas alfaias.
Vai desabar, vai desabar
o teto de zinco marchetado de estrelas naturais
e todos, ó ainda inocentes, ó marginais estabelecidos, morrereis
pela ira de Deus, mal governada.

Padecemos este pânico, mas
o que se passa no morro é um passar diferente,
dor própria, código fechado: Não se meta,
paisano dos baixos da Zona Sul.
Tua dignidade é teu isolamento por cima da gente.
Não sei subir teus caminhos de rato, de cobra e baseado,
tuas perambeiras, templos de Mamalapunam
em suspensão carioca.

Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,
medo só de te sentir, encravada
favela, erisipela, mal-do-monte
na coxa flava do Rio de Janeiro.

Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver.
Nem de tua manha nem de teu olhar.
Medo de que sintas como sou culpado
e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.

Custa ser irmão,
custa abandonar nossos privilégios e
traçar a planta
da justa igualdade.

Somos desiguais
e queremos ser
sempre desiguais.
E queremos ser
bonzinhos benévolos
comedidamente
sociologicamente
mui bem comportados.

Mas favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
Vês que perdi o tom e a empáfia do começo?


Carlos Drummond de Andrade

Ilustrado por Tatina Neves.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O presente relatório tem por objetivo descrever, bem como analisar a visita realizada no Orla de Copacabana no dia 01/07/10 às 14:30, sendo esta uma atividade da disciplina Núcleo Temático ministrada pela professora Rosemeire Maia no Curso de Serviço Social da UFRJ.
No campo percebemos que a organização espacial se constitui como um espaço geográfico provido de diversos equipamentos tais como: bicicletário, equipamentos para realização de atividade física, balisa na areia para jogos de futebol, lixeiras por toda a Orla e etc.
Logo de cara nos deparamos com uma visão do que podemos considerar com invasão do espaço público pelo privado, que seria a ocupação de uma faixa litorânea por organizações/entidades privadas para fins de promover uma atividade "cultural", vinculando a divulgação de marcas de grandes corporações, tudo isso com a concessão da prefeitura municipal.
A presença ostensiva da polícia militar, através de postos de vigilância e fiscalização, além de diversas viaturas, não somente na área de circulação de veículos, como também presente na faixa de areia, com o intuito de manter uma "ordem" aparente.
Além disso, vimos a presença de ônibus com o logotipo da prefeitura municipal, com escritos: choque de ordem/ acolhimento social, que na verdade representa a recolha de
famílias de moradores em situação de rua dos principais pontos turísticos da cidade, carros-guincho que podem ser interpretados como remoção de veículos em situação irregular, além das câmeras de segurança para o "controle" da população transeunte.
Percebemos o processo de revitalização da Orla, sobretudo através dos novos quiosques , que custaram aos cofres públicos cerca de 1 milhão e 300 mil reais cada um.
Por Pablo Landes e Tatiana Neves (TEXTO);
José Aloísio, João Ricardo e Tatiana Neves (FOTOS)




































Perfil do Trabalho em favelas











Os gráficos aqui expostos são parte do Censo das Favelas, realizado pelo governo do Estado do Rio de Janeiro em parceria com o a Prefeitura, entre os anos de 2008 e 2009. Tal censo alcançou três favelas da cidades do Rio: Complexo do Alemão, Manguinhos e Rocinha. Entre os dados estatísticos levantadas neste trabalho, nos interessa destacar aquelas referentes ao perfil do trabalho nestas comunidades. Assim sendo constam: Renda por pessoa; Ramo de atividade das empresas; Empresas informais e formais; Empresas que têm Internet; Variação do faturamento das empresas em 2007 e 2008 e Nível de escolaridade dos empreendedores.
Tais gráficos revelam o perfil das condições de trabalho nas comunidades cariocas, que em geral se encaixam em condições de informalidade.Também revelam, um baixo nível de escolaridade dos empreendedores, que os condiciona a permanecer num ciclo de informalidade e falta de direitos trabalhistas. Também fica claro a pouca apropriação tecnológica nestes trabalhos, com baixo índice de uso da Internet. Em geral são atividades realizadas no setor de serviços onde se revela um baixo nível de renda salarial frente ao rendimento médio da cidade do Rio de Janeiro.
Estes trabalhadores fazem parte de uma reliadade crescente em nível mundial, dado as condições de trabalho exigidas a partir do movimento de reestrutuiração produtiva e o processo de globalização. Por outro lado, no âmbito das políticas públicas, não se vê iniciativas de grande alcance que permitam estes trabalhadores de qualificarem, segundo estas novas exigências do mercado, para concorrerem de em níveis paritários com aqueles que tiveram mais oportunidades.

Fonte: EPG - Rio. Censo das Favelas
http://www0.rio.rj.gov.br/ipp/Documentos/apres%202009-08%20Censo%20IPP.pdf

http://www.egprio.rj.gov.br/

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dois textos acerca do urbano.

A partir da idéia do urbano e do espaço citadino, reuniram-se dois textos para que pudessem ser correlacionados. Embora tratem do mesmo tema, partem de perspectivas diferentes para descrever o urbano. O primeiro texto se trata de uma crônica escrita por Paulo Barreto que assina esta obra, A Rua, pelo pseudônimo de João do Rio. Já o segundo texto é cunho científico e se chama A invenção do urbano: a construção da ordem na cidade , e foi escrito por Roberto Moses Pechman.
O primeiro texto busca tratar do tema urbano através de um olhar mais lúdico e ao mesmo tempo poético acerca do espaço da rua, se utilizando de figura de linguagem como a personificação. Chega mesmo a dizer: “...a rua tem alma!” (p.1), de forma a construir uma imagem desta para além do espaço físico funcional das cidades. Também se refere à rua como formadora de indivíduos sociais, que passam a estabelecer suas relações com o mundo através da rua que habitam. Identifica assim diferentes padrões de comportamento que se manifestam conforme a rua que se tenha nascido ou que se viva. O seu cenário e a cidade Rio de Janeiro e a rua seria um espaço de socialização por excelência.
O segundo texto sendo de caráter científico trata a questão do urbano tendo em vista a delimitação de seu conceito. Para tal o autor faz uma breve regressão histórica para identificar como se deram as primeiras cidades, ainda na idade média. Dá um salto para séc. XVIII e XIX buscando um focar a cidade a partir da idade moderna. Segundo o texto há uma diferenciação entre o conceito de cidade e de urbano, entre o espaço físico e o espaço ideal, subjetivo: ... a história da cidade não é a história do urbano. Epistemologicamente, o urbano deve ser visto como ruptura, momento novo onde os discursos sobre a “cidade” serão uma tentativa de formar um novo objeto. (p. 126).
A partir desta discussão o autor busca perceber a origem da noção do urbano, de forma a identificá-lo como o espaço social, voltado à construção das relações econômicas, sociais e simbólicas. Também conceitua o urbano enquanto espaço onde as relações de produção estão ligadas ao tempo, através de novas formas de dominação que se dão “pelo controle do tempo e que tem como pressuposto o espaço.” (p.128). Tal característica fica mais clara conforme avançam os efeitos da Revolução Industrial sobre as cidades.
Desta forma, cabe agora identificar os pontos de interlocução entre estes dois escritos. Em primeiro pode-se considerar o que Pechman diz acerca do urbano, ou seja, que este não é apenas um espaço físico, como a cidade, mas sim o espaço da “representação, o espaço abstrato” (p. 127). A partir desta colocação abre-se uma ponte para o texto de Barreto, que trata o espaço da rua como o espaço das representações, das relações, das vivencias.
O texto de Pechman retoma ao séc. XVIII, quando se refere às novas idéias que surgiam quanto ao ambiente urbano. Ressalta a influência do Iluminismo neste processo, que faz ascender às cidades como espaço de virtudes, cidadania e civilização: “É nas cidades que é possível apurar o gosto, difundir a razão e formar uma cultura que se distancia da cultura medieval impregnada de misticismo e religiosidade”. (p. 126). Por sua vez Barreto inclui em seu texto idéias análogas quando diz: “Nas grandes cidades a rua passa a criar o seu tipo, a plasmar o moral dos seus habitantes, a inocular-lhe misteriosamente gostos, costumes, hábitos, modos, opiniões políticas”. (p.4)
Os dois textos trazem a idéia de ambiente urbano enquanto lugar potencial de formação dos sujeitos sociais. Ambos entendem que a partir do espaço urbano abre-se uma variada e complexa configuração de tipos sociais, criando um novo padrão de relações refletidas por este modo de vida mais urbanizado. Nos dois textos a literatura aparece como difusora destes novos reflexos que as cidades imprimem aos homens que nela habitam.
Curioso perceber como os dois autores se utilizam de uma mesma figura urbana. O “flâneus” aparece para Barreto enquanto o vagabundo, aquele que vaga pelas ruas, porém investido de uma inteligência e de uma capacidade reflexiva que os distingue daquele desocupado qualquer. Em Pechman, este novo ente sócio-urbano é citado através de outro autor, Walter Benjamim, que aponta para a perda de espaço deste para a nova dinâmica que se impõem às ruas, agora voltadas à circulação e o consumo.
Estes textos entendem o urbano como algo universal, que se expressa em âmbito global, embora os retrate de formas distintas. Barreto, apresenta a rua como um lugar de socialização humana em diferentes cidades do mundo: “ Em Benares, ou em Amsterdão, em Londres, ou em Buenos Aires, sob os céus mais diversos, nos mais variados climas, a rua e a agasalhadora da miséria” (p.1). Pechman retrata tal questão a partir da criação de uma cultura urbana, de como as cidades passam a assumir uma nova função e consequentemente um novo espaço de reprodução social, através da Revolução Industrial. Tal processo se deu um âmbito mundial e são apontados nos dois textos, embora em Barreto de forma poética, enquanto que em Pechman de maneira mais crítica e melhor contextualizada. Contudo não se pode deixar de considerar o caráter distinto do destes trabalhos.