quarta-feira, 9 de junho de 2010

Cidinho e Doca - Rap da Felicidade (www.zuandonosbailes.com)



Conforme as diversas formas de conceituarem a favela,segundo o senso comum: "a favela é definida,paradoxalmente, pelo que não teria:'favela é aquele lugar que não tem acesso a serviços básicos, asfalto, escolas, postos de saúde, creches, educação, não tem regras, não tem leis, não tem cidadania!'. (revista GLO(AL),nº1,outubro/novembro de 2003).

Esta é uma música ícone do mundo funk, que assim como o ritmo do funk, busca retratar a realidade da favela, seus percalços, a realidade de sua população, os abusos sofridos seja pelo governo ou pela ausência e desresponsabilização das esferas competentes acerca de compromissos que deveriam ter com esta camada da população.
Cabe ressaltar que falar de FAVELA é falar de estigma, estigma este que não apenas atravessa os seus moradores como o próprio entendimento e conceito de FAVELA. Há uma tendência a olhar a FAVELA como parte da sociedade e não como elemento constituinte da sociedade, deste modo, aloca-se seus moradores a uma condição de não cidadãos, portanto, pessoas não portadoras de direitos.
Outro aspecto a que se pode salientar é a própria imagem difundida na mídia que não apenas reproduz um conceito de uma ordem dominante como lança comportamentos, olhares, forma visões, conferindo ao relato, ao acompanhar um noticiário na tv ou acompanhar as manchetes de jornais a FAVELA sempre aparece como um lugar perigoso e, tal perigo não condiz apenas ao seu espaço geográfico e sim, a seus habitantes. Comum retratar-se os confrontos entre polícia e traficantes, tiros, "guerra" entre grupos de traficantes rivais dentre outros aspectos que salientem o " perigo" eminente que FAVELA representa aos cidadãos. E é assim mesmo, "cidadãos", entendendo que quando há uma preocupação com os cidadãos estes são os moradores da favela.
No entanto, do mesmo modo que se há uma preocupação em mostrar e divulgar a violência que existe nas FAVELAS (que acomete toda a cidade e não apenas o espaço da FAVELA), não há igual preocupação dos meios informativos e dos espaços ocupados por intelectuais prontos para discutir sobre o que é a FAVELA no que diz respeito a discutir a falta de saneamento básico, o acesso precário ou inexistente saúde em seu caráter preventivo e urgente, a respeito de escolas insuficientes para o número de moradores em idade escolar de tais espaços e da distância destas unidades de ensino das residências, da dificuldade no acesso ao transporte público e na inexistência de acesso cultural a não ser por eventos pontuais que sejam realizados pelos próprios moradores ou por iniciativas particulares.
Esta breve reflexão vem para levantar questionamentos que busque mudar os olhares acerca do que é a FAVELA. Que este é um espaço que faz parte da sociedade, que não está à margem, tão pouco recortado como alguns insistem em defender. Pensar a FAVELA como um espaço social é pensar a FAVELA como um lugar que dentre seu quadro de privações, aparente esquecimento estatal, é um espaço de direitos dos cidadãos, que não deve ser lembrado apenas pela polícia ou por seus confrontos armados. A FAVELA é acima de tudo um espaço de sociabilidade, de formação de cultura , dos cidadãos que lutam e buscam defender direitos civis, político e sociais que são violados diariamente, é um espaço permeado pela violência em suas mais variadas expressões, mas que jamais deve ser alocada à parte do conjunto social e da realidade de profunda desigualdade social que atravessa becos, vielas, ruas e avenidas na realidade brasileira.

Desenvolvido por Tatiana Neves.

3 comentários:

  1. Nos últimos tempos constatamos diversas medidas governamentais, no que tange à segurança pública das áreas "reconhecidas" como lócus do mal, assim, pelo já supracitado, senso comum.
    Segundo Jaílson de Souza e Silva, na revista GLOB(AL),nº1,outubro/novembro de 2003), "melhoria na segurança pública passa por romper o discurso dos setores médios que identifica a favela como local em que falta tudo e onde o cidadão é potencialmente marginal."
    Na mesma revista, é retratada a exposição do professor Luiz Eduardo Soares em artigo publicado na Folha de São Paulo,a respeito sobre um conjunto de proposições sobre o papel a ser cumprido pela Secretaria Nacional de Segurança, tendo a comunidade da Cidade de Deus (no Rio de Janeiro),como referência. Conforme o professor, é necessário a articulação das ações de repressão focalizadas ao tráfico de drogas com iniciativas preventivas, que ampliem as possibilidades sociais dos jovens das comunidades populares e dificultem o seu recrutamento para a atividade criminosa.

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  2. Percebe-se, infelizmente, que as iniciativas preventivas estão focalizadas, não atendendo grande parte das demandas. Ainda que a maior parcela de responsabilidade social recaia sobre os ombros da sociedade civil (devido ao afastamento da intervenção estatal, conforme a conjuntura neoliberal) deve-se considerar os esforços de Ong's, entidades filantrópicas e, como já mencionado, a CUFA, além de outras, na busca por um maior acesso à cidadania.

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